Resolvi, desta vez, escrever uma crónica de cariz mais (totalmente) pessoal. Particularizar. Porquê? Simplesmente porque, desde o início dos treinos cronometrados, estive totalmente alheado de tudo aquilo que se passou para lá do meu raio de acção. Concentrei-me dentro de uma bolha chamada «kart» e só vi o que era projectado para lá da minha viseira.
Chegado ao kartódromo no dia da prova, o pelotão do NKO estava, logo à partida, privado de um dos seus mais ilustres elementos: General Abreu já tinha confirmado a sua ausência da VII Prova por motivos de força maior. Pior ficámos, ainda assim, quando soubemos que não iríamos correr na pista «grande» invertida...
Problemas à parte, resolvida uma falha de energia que colocou a prova em risco, e realizado o briegfing e o sorteio, era hora de saltarmos de uma vez para os nossos «meninos»; a expectativa era enorme!
Entrei em pista já na cauda do pelotão, e ainda deixei que todos me passassem logo nas primeira duas curvas. Queria realizar o máximo de voltas, sozinho, com a pista livre, e, desta vez, sem referências por parte de pilotos mais fortes. Uma das primeiras sensações que tive, pouco depois de me ter sentado no kart, foi a de que tinha em mãos uma boa máquina, que me poderia proporcionar um tempo cimeiro e uma primeira manga de grande nível. Não me enganei. Pus o pé a fundo e realizei uma dezena de voltas muito rápidas, sem que ninguém me tivesse ultrapassado, além de ter conseguido desembaraçar-me de um rol incrível de pilotos! Dentro do capacete repetia a mim mesmo, «ou aconteceu o milagre dos ´deixados para trás´ e ninguém me passa porque não há ninguém atrás (!), ou então tudo isto é fruto de um outro milagre qualquer e eu estou mesmo a ser rápido comó diabo!»
Andei bem!
Acabei por rubricar o 2º melhor tempo, a minha melhor prestação em treinos cronometrados, e só soube mais tarde que cheguei a ser o homem da pole desde a 6ª volta até... à última!! Graças ao "The Bullet", fiquei sem ela (a pole) na sua última passagem pela recta da meta...
Ainda assim, e numa posição dianteira, as minhas expectativas eram altíssimas. Atrás de mim, as ameaças vinham de pilotos letais como "The Stone", "The Feather", "The Gatherer", ou o "Moskito".
Com uma partida limpa e rápida, assumi a liderança na abordagem à primeira curva, mas a confusão quando chegámos à zona das bancadas foi tão grande que resolvi levantar o pé e deixar a malta passar, de modo que cheguei à primeira travagem forte em 5º lugar. Aí, só não levantei voo porque fui suficientemente rápido para fugir ao abalroamento do "Moskito", que, tendo travado na última (das últimas, diria eu), acabou por "acertar" em alguns pelo meio... Com a fuga in extremis, fui lavrar uns metros para a relva e quando voltei para a pista fí-lo atrás do Vasconcelos e do Mad, já com uma boa meia dúzia de metros de desvantagem relativamente ao Mendonça e ao "The Bullet". A partir daí, em diante, travei uma luta fantástica com o "Moskito", assim que ambos ultrapassamos o Billy e o Vasconcelos, claramente em karts inferiores aos nossos. Mantive-me na frente do Moskito, numa luta sem tréguas, ao longo de mais de dez voltas, até que ele desfere um ataque e me passa. Ao mesmo tempo que lutávamos (só com uma ultrapassagem entre nós), "The Stone" e "The Bullet" digladiavam-se em sucessivas trocas de posições, pelo que foram perdendo décimos atrás de décimos a cada volta. Até que, a uma volta e meia do fim, o "Moskito" (que eu entretanto tinha voltado a ultrapassar), não me dá hipótese e coloca o kart à frente do meu na parabólica interior, ao mesmo tempo que íamos numa perseguição louca aos dois da frente, cientes de que "ainda dava!" Vou no encalço do "Moskito", puxado por ele, e assisto a uma volta delirante, num tudo-por-tudo fabuloso. Rodámos os quatro separados por metros, com o "The Bullet" sempre na frente a "controlar", e eis que na curva do crime o "Moskito" efectua outro voo rasante e... zás!, supera "The Stone" com um... «chega-te-para-lá-se-fazes-o-favor»! Ainda tento aproveitar a abertura que daí resulta mas não logro nos meus objectivos e quedo-me pelo quarto lugar, terminando a 1 segundo do primeiro, 4 décimos do segundo, e a 2 décimos do terceiro... M-A-G-I-S-T-R-A-L!! Um luta exepcional durante toda a prova com o Luís, uma toada brilhante que nos permitiu alcançar os primeiros, e um "finale" digno de gravação. Perfeito!
Na segunda manga, a história quase que se repetiu; tenho em sorte um novo kart que me permite andar pelos lugares da frente, e volto a rivalizar com um "Moskito" sedento de sangue e pontos!
Cedo perdemos o contacto para os 2 primeiros, verdadeiramente inalcansáveis, Miguel Pinheiro e TT Danny. Em terceiro estava o "Quick" Quico, que só depois de meia prova consegui alcançar e ultrapassar. Daí em diante foi uma luta a dois, com o "Moskito", como referi, com uma das minhas melhores travagens de sempre pelo meio (uma loucura, a sentir o kart a fugir por todos os lados, a ir à parte suja da pista, e quase quase a perder o controlo!!), e umas últimas 5 voltas de tirar o fôlego. Estudei ao pormenor a melhor forma de poder levar de vencido um ultra competitivo e motivado Luís Aguiar, e jurei que mataria o moskito com o mesmo «ferro» com que ele me tinha atingido a mim, na prova anterior, na penúltima volta! Foram voltas de minucioso decalcar de trajectórias, travagens mais cedo e mais tarde, curvas mais por dentro ou mais por fora, até que decidi que o atacaria num ponto específico. Se lograsse a ultrapassagem, teria cerca de 3 curva para o «tapar» como pudesse! Contudo, e para meu desespero, um erro (só mais um...) da organização do KVC deitou toda a minha estratégia por água abaixo e, quando eu pensava que teria essa derradeira tentativa para o ultrapassar, a bandeirada de xadrez é mostrada quando o contador de voltas mostra o "1". Para mim, e para todos, faltava ainda uma volta para o fim! Fico a 6 décimos do "Moskito", e transformo um super Sábado num Sábado de "quases"... Quase que fico com a pole, sinto claramente (pela primeira vez) que posso ganhar uma corrida (a 1ª manga), e quase que tento passar o "Moskito" na última volta, "vingando" o seu calculismo anterior na manga anterior. No fim, QUASE que fico com o caneco de terceiro, que perco para o "The Stone", por este ter feito a melhor volta da primeira manga, volta essa que foi melhor do que a minha... 7 milésimos de segundo!! Inesquecível...!
Parabéns sinceros a mais uma vitória da "Bala" (na primeira manga, com pole e vitória), regozijo pelo regresso em grande de "The Stone", grande segunda corrida para Miguel Pinheiro e TT Danny, uma vénia ao desempenho sem espinhas e finalmente ao seu nível para o "Moskito" (em grande!), mais uma prova rapidíssima na segunda manga para "Quick" Quico, e, regra geral, um enorme abraço de respeito pelo comportamento generalizado de todos. É um prazer ter-vos como rivais dentro da pista.
Realço a atitude do TT Danny no final da prova, quando corrigiu, por ele mesmo, um erro que o beneficiara, e um salut ao Quico por uma posição nem sempre fácil de assumir, mas que é reveladora.
A todos vocês, é convosco que eu quero partilhar 2009! Em pista!!
